Há uns anos, um amigo me deu
um texto. Impresso em um papel A4 comum. Desses que usamos pra entregar nossos
trabalhos acadêmicos, para colocar letras que usamos pra ensaiar músicas ou
mesmo para outra finalidade cotidiana. Nele havia um texto cuja autoria é
atribuída ao Shakespeare. Chama-se O Menestrel. Não quero entrar nos pormenores
de todo o texto, mas é o tipo de coisa que eu acho que todas as pessoas, em
algum momento da vida, deveriam ler e refletir sobre o que ele traz.
Pois bem, naquele dia, antes
de começar assistir a um concerto da Orquestra da Ospa, junto de outros amigos,
fiquei comovido ao ler aquelas palavras... O texto fala de maturidade, de
fazermos o melhor para crescermos como pessoas, como humanos, sobre sermos
melhores. Mas, especificamente, a parte que trago para refletir é a seguinte: “Portanto,
plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga
flores.” Foi algo forte. Ainda mais pra alguém que sempre viu a amizade como
uma adaptação pra vida real do O Pequeno Príncipe (sei que é polêmico e já foi
refutado diversas vezes o conteúdo do livro, mas ainda acho que ele tem um
valor desde que seja crítica a análise perante seu conteúdo).
Claro que acho que o amor
próprio deve ser a chave para sermos autênticos e sinceros perante nossa
consciência e com quem nos rodeia, mas usando a mesma alegoria: para que serve
um jardim florido? Apenas para encher nossos olhos? A Elis Regina cantava uma
música que dizia “Onde eu possa plantar meus amigos, meus discos, meus
livros... E nada mais”. Eu acredito um pouco nisso: nossas buscas a nossa
essência pode ser uma jornada solitária, mas temos aquelas pessoas que estão
sempre conosco e que nos amam. De verdade.
Penso que nossa alma deva
ser florida, mas para que todo o cheiro perfumado exalado através dela possa fazer alguma diferença. “De
que servem as flores que nascem pelos caminhos se o meu caminho sozinho é nada”.
Nada mais é do que aquele pensamento de que cada pessoa dá o que tem. E o que
temos, sempre, é o presente. E o que somos sozinhos no mundo? Por mais que o
passado nos assombre, que o futuro possa nos encher ou esvaziar nossas
esperanças, nós vivemos o presente. E é nele que podemos fazer a diferença. É
agora que podemos ser melhores, que podemos mudar nossos costumes, pensar no
que é nosso ideal de ser. E ser, sobretudo.
“A vida é uma eterna despedida de tudo que a
gente ama.” A máxima de Victor Hugo me faz pensar sobre esse emaranhado de
ideias que tentei expressar acima: se estamos sempre nos despedindo do que
amamos, será que não vale deixarmos uma coisa boa ao partirmos? Não me refiro a
morte necessariamente, mas sim ao final cíclico das etapas da nossa vida. Não
sabemos se veremos as pessoas novamente, se faremos aquilo que tanto queremos
outra vez. Então, mais uma vez, como um mantra, vou afirmar: o que nos pertence
é o presente e temos que ser grato ao que temos. Aos amigos, aos amores, aos
momentos que nos ensinam valiosas lições e a tudo que nos rodeia.
Por mais que eu sinta falta de muitas pessoas e momentos, por
todas minhas limitações, por tudo que já perdi na vida, não serei mesquinho e
dizer: nada tenho. Por mais que doa as tantas coisas que eu gostaria de fazer
diferença e, por algum motivo, não posso. Sei que tudo é uma lição, uma passagem, e que agora o
vento sopra em um dia nublado pouco provável de se prever ontem quando era um
dia ensolarado. Que a vida continue surpreendendo e me fazendo uma pessoa
melhor, com meu jardim a ser decorado agora e sempre para que possa presentear
aqueles que me rodeiam com coisas boas.
Shalom!
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